Trip Rural explora a antiga Estrada da Serra Preta, Pindamonhangaba

Voltamos a trilhar pela antiga Estrada da Serra Preta, que já ligava na década de 20 o Pico do Itapeva aos bairros rurais do Rodeio e Oliveiras, lá no alto das montanhas da Mantiqueira, nos limites de Pindamonhangaba. Em 2013 (fotos abaixo), o Trip Rural fez o percurso à cavalo à partir do bairro rural do Rodeio, em mata quase fechada e trilha pouco explorada. Desta vez, partimos num 4X4 à partir do bairro vizinho, o dos Oliveiras, através da Estrada Municipal João Egídio da Cunha cruzando o Pesqueiro e Restaurante Serra Azul que, com a reabertura vem servindo de base de apoio e orientação aos novos visitantes.

História

Sr. João Emídio, figura antiga e querida na cidade foi nosso guia na primeira vez. Suas origens no alto da serra, descendem do pai mineiro, que chegando em terras pindamonhangabenses, adquiriu grande parte das terras do local. Seus herdeiros até a geração do neto Sergio (filho de Sr. João) por muitos anos se utilizaram da Estrada Municipal da Serra Preta até a década de 80 para comercializarem seus produtos, principalmente a banana, queijo e o artesanato junto aos turistas do Pico do Itapeva. Com o tempo, o comércio no centro de Pindamonhangaba evoluiu com o crescimento da cidade e a estrada foi deixada de lado pelos moradores locais e pela administração pública. A mata tomou conta e alguns poucos aventureiros e moradores se utilizavam da estrada que acabou virando trilha.

Direito à subsistência

Recentemente, com a ameaça da cidade ser excluída do circuito do Caminho da Fé em função do perímetro urbano em nosso trecho, somado ao fomento do Turismo Rural que nossa equipe já vislumbrava naquela trilha a cavalo e, às novas gerações de moradores das áreas rurais que passaram a vislumbrar na atividade turística como um meio de sobrevivência, fizeram resgatar a estrada quase desaparecida e trazer uma nova perspectiva na região, o do desenvolvimento sustentável.

Proporcionar o direito de sobrevivência aos moradores locais que durante décadas se mantiveram à marginalidade do desenvolvimento (antes voltado somente às indústrias); amenizar o isolamento de comunidades rurais com ações socioambientais eficazes; agregar a agricultura familiar; resgatar as tradições e fomentar o turismo sustentável praticado pelas diversas categorias da atividade (ecológica, rural, histórica, educacional, de contemplação, fotográfica, cultural entre outras) devem ser aceitos e encarados com coragem e responsabilidade pela Administração Pública, pelos agentes fomentadores e pelas comunidades ali inseridas.

Preservação  X Desenvolvimento Econômico

A notícia da recuperação da antiga estrada gerou polêmica entre os praticantes de caminhadas mais radicais que se utilizavam da então trilha. Denúncias surgiram contra novos proprietários de grandes áreas que, ignorando a legislação ambiental e o uso público de áreas como é o caso de uma estrada municipal. Passaram a desmatar extensões inimagináveis dentro de Área de Proteção Ambiental (APA) e a fechar seus acessos, privando a comunidade e turistas a fazer uso do local, visando somente o que parece ser, interesses próprios.

Constatamos tudo isso, agora, num automóvel 4X4 e notamos que a notícia também despertou o interesse e admiração de outro público. Jipeiros, bikers e praticantes de caminhadas, viram na estrada uma forma de acessar e conhecer pontos antes inacessíveis e perceberam a hospitalidade e boas vindas dados pelos locais.

Aliar a preservação com o desenvolvimento econômico de forma sustentável é o movimento que rege o mundo atual e, muitos ainda não tem consciência ou iniciativa em se adequar à nova realidade.

Cuidados

A estrada ainda carece de alguns cuidados e o acesso não é seguro para automóveis de passeio. Curvas fechadas, íngremes e terra ainda fofa podem causar riscos, por isso, se quiserem conhecer o trecho, a gente sugere somente os carros tracionados, o cavalo, bike ou mesmo a caminhada. O trecho possui 4 quilômetros de extensão e exige condicionamento físico para o trekking de mais de duas horas de subida na montanha. Grande parte dela é dentro da mata fechada. Somente mais ao final, já nas proximidades do Pico do Itapeva, o visitante encontrará um trecho mais plano, aberto e com pontos de contemplação de todo Vale, como verdadeiros mirantes. Não se surpreenda se o trecho final que dá acesso ao asfalto que leva ao Pico do Itapeva estiver fechado. Como dissemos, os conflitos de interesses ainda existem, o que pode frustar em parte, o passeio.

Impacto ambiental

A estrada da Serra Preta, corta propriedades particulares, portanto, apesar de ser de uso público exige-se respeito dos usuários quanto à segurança dos moradores, animais domésticos, e principalmente, da fauna nativa existente no local. Motociclistas costumam causar mais impacto sonoro e tendem a andar em velocidade acelerada o que pode afugentar a fauna local e comprometer a acessibilidade e desenvolvimento sustentável. Atividades radicais podem não ser bem vistos, por isso, pensem em como desfrutar do local de forma a ser sempre bem vindo.

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